Fortalezas do Século XXI?
Fortalezas do Século XXI?

Fortalezas do Século XXI?

FORTALEZAS DO SÉCULO XXI?

Por Marcelo Pimentel


O aumento exponencial da violência urbana no Brasil, em particular nas capitais e cidades mais populosas, verificado a partir dos anos 1990, impuseram a arquitetos, engenheiros, administradores, síndicos e moradores de edifícios residenciais de alto padrão, a necessidade premente de se adaptarem à situação de insegurança crescente, a fim de proteger famílias, funcionários e visitantes das ações hostis de ameaças, cada vez mais carregadas de violência e praticadas com crescente criatividade e emprego de disfarces e simulações, a fim de driblarem sistemas e serviços de vigilância e lograrem penetrar nos condomínios.
Os novos empreendimentos de alto padrão passaram a ser planejados de acordo com a situação, prevendo-se barreiras e portões mais altos e reforçados; eclusas para veículos e pedestres; portarias blindadas; limitação da observação do interior das propriedades; intensificação da iluminação, dentre outros.
Cercas elétricas, sensores infravermelhos, sistemas de alarmes e circuitos de câmeras cada vez mais abrangentes, ao par de equipes de segurança e porteiros cada vez mais capacitados e treinados, dotados de comunicação eficiente, passaram a constituir os meios de proteção desses condomínios.
A tecnologia, em constante evolução, permitiu a incorporação de meios sofisticados, como leitores de placas de veículos, sensores biométricos para identificação de pessoas, sensores de movimento, mapas de calor, controles remotos com botões de pânico ou emergência etc.
Todo esse aparato transformou esses condomínios – horizontais ou verticais – em verdadeiras fortalezas, como os castelos que havia na Europa medieval.
Porém, as ameaças também sofisticaram suas formas de atuação, adaptando-se às medidas que visam a prevenir e obstruir suas ações deletérias.
Nesse embate constante, as modernas fortalezas também acrescentaram equipes reforçadas de vigilantes, a fim de controlarem os acessos, não apenas de prestadores de serviço, visitantes e funcionários, mas focados, principalmente, na observação do interior de veículos de moradores que adentram aos condomínios, visando a a evitar que estivessem sob coação de elementos adversos, em ua forma de intrusão que tornaria nulas todas as precauções e sistemas adotados.
Entretanto, a despeito de toda a panafernália de equipamentos, meios tecnológicos, equipes de segurança, monitoramento remoto, acompanhamento regular dos riscos e aperfeiçoamento constante de processos, pequenas, involuntárias e quase imperceptíveis ações podem tornar ineficazes todo um sistema de segurança.
Essas discretas ações são praticadas em conjunto por moradores e funcionários domésticos desses, sob a observação e anuência dos integrantes das equipes de vigilância e segurança dos condomínios, por desconhecimento dos riscos envolvidos.
Explico:
Diariamente, percorro a pé um percurso que passa por edifícios de altíssimo padrão, cujas unidades têm preços oscilando entre 10 e 15 milhões de reais, localizados
em um dos bairros mais exclusivos da cidade de São Paulo.
Como observador atento da cena urbana, sob a ótica da proteção e segurança, e como um aprendiz e entusiasta da atividade de contrainteligência e sua aplicação na vida cotidiana de pessoas e organizações, vejo que existem rotinas e procedimentos que representam riscos à incolumidade de algumas dessas “fortalezas do século XXI”.
Observo, diariamente e nos mesmos horários, empregados domésticos saindo desses condomínios para levar os “pets” da família para seus necessários passeios e exercícios. O ato destaca-se e chama ainda mais a atenção de terceiros – como eu – pelo fato de tais servidores encontrarem-se perfeita e impecavelmente trajados com uniformes que denotam, explicitamente, que se tratam de pessoas que trabalham em lares de famílias abastadas, de excelente condição financeira.
Eis uma evidente vulnerabilidade, não prevista pelos estudos de identificação e análise de riscos a que esses condomínios devem – certamente – ter contratado.
É intangível e imensurável o valor de um animal doméstico para as famílias que o adotaram e que criam-no com carinho e amor. Elementos adversos podem – e certamente estão – acompanhando essses movimentos. Para o roubo desses animais, seria um passo lógico, segundo seu raciocínio perversoe criminoso. Mais ainda, seria um passo com baixíssimos riscos e com grandes chances de sucesso. A partir da apreeensão desses queridos animais, que afetaria a toda família, em especial às crianças, o ato deletério seguinte seria a prática de extorsão mediante sequestro.
Outra cena observada, no mesmo sentido, refere-se a babás uniformizadas deixando esses castelos com carrinhos de bebê, levando ao passeio filhos dessas famílias, sem acompanhamento algum de seguranças, em completo alheamento às ameaças inerentes, que, uma vez concretizadas, teriam efeitos potencialmente catastróficos.
Outra possibilidade, ainda, é a do recrutamento ou cooptação de funcionários, por elementos adversos atuando sob Estórias-Cobertura diversas, desde abordagens fortuitas a envolvimentos amorosos. Uma vez estabelecido algum vínculo, tais elementos adversos poderiam extrair informações fundamentais sobre moradores, suasa rotinas, sus bens etc. Outros elementos de eventuais grupos adversos (quadrilhas), poderiam complementar os dados obtidos – involuntariamente – desses funcionários, por meio da vigilância e de outras fontes abertas, por exemplo.
Os momentos descritos acima são exemplos de como procedimentos rotineiros podem representar riscos altos, e evidenciar que equipes de portaria e segurança, normalmente, preocupam-se apenas com o que aborda seus portões, mas não com quem sai por eles.
Essas ações de rotina, da parte de funcionários das unidades – sob demandas de seus patrões, claro – podem pôr a perder tudo o que foi planejado, investido, treinado e praticado por todo o sistema.
Contudo, há soluções para minimizar os riscos dessa exposição idesejada.
Poderiam começar com alternância de horários para passeios com crianças e pets, de forma a não oferecer a elementos adversos uma rotina que seja facilmente entendida.
Outra medida a ser adotada seria a não utilização de uniformes por esses funcionários, a fim de que, descaracterizados, possam dificultar a observação e o acompanhamento dos agentes hostis.
Outra providência adicional poderia ser o acompanhamento à distância por agentes de segurança.
Medidas adicionais desejáveis seriam a conscientização de funcionários domésticos, a fim de alertar-lhes sobre a existência e modus operandi de possíveis ameças e proporcionar-lhes treinamento, para agirem com proatividade, antecipando-se a ações hostis e, também, para evitar tornarem-se alvos de eventuais ações de extração de dados.
Em síntese, há que se dedicar atenção e energia ao que ocorre no entorno das fortalezas, e das vulnerabilidades oferecidas pelas rotinas de seu público interno, ao deixá-las no dia-a-dia.
O Fator Humano ainda é o prevalente.

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